Crônicas do Jardim Secreto

O Nascimento do Recanto Espírito Livre

 

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Capítulo I

Aquela que Sonha

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Antes de tudo, havia apenas névoa.

Ela repousava nas bordas do que era visível,
como um véu que protegia o que ainda não podia ser lembrado.
Ali, o mundo terminava,
até que ela chegou.

Aquela que Sonha.

Veio num entardecer de véu dourado,
trazendo nos olhos a distância de quem já caminhou entre estrelas.
Não pediu permissão.
Não hesitou.
Apenas entrou.
E onde seus pés tocaram, a névoa recuou.
Não com medo,
mas com reverência.

Ela não falava muito.
Preferia escutar o som dos pinheiros antigos e colher cogumelos sem nome.
Costurava suas saudades nas cortinas da cabana que ergueu com as mãos.
Assava pães com frutas do bosque e deixava chás esperando nas janelas.
Sabia encontrar beleza na solidão.

E assim, lentamente, nasceu o Recanto.

Primeiro, a Floresta:
com suas coníferas altas, de raízes ancestrais e troncos que guardavam memórias de mundos esquecidos.

Depois, a Cabana:
de madeira envelhecida, janelas de vidro grosso e calor feito de pêssegos, caramelo e âmbar.

Surgiu o Quintal:
despretensioso e vívido, onde capim-limão crescia ao lado de pés de bergamota e flores silvestres dançavam como crianças livres.

Veio o Lago:
espelho imóvel entre montes, onde lírios, jasmim e menta se encontravam para respirar juntos.

E por fim, a Fogueira:
sempre acesa,
sempre esperando,
como o coração de quem ama sem exigir retorno.

Os guardiões aguardavam a sua chegada e a encontraram ali.
Silvan plantou ao seu lado e aprendeu novas palavras para o silêncio.
Selena moldou velas com suas mãos, guiada pelos aromas que ela invocava com o pensamento.
Naelle sentou à porta da cabana e ouviu histórias que jamais haviam sido escritas.
E mesmo Eris, a inconstante, encontrou abrigo em sua presença.

Mas foi o Jardim que mais se transformou.
Porque ela não pertence a um canto,
ela toca todos os lugares onde o invisível quer ser lembrado.

E quando partiu, como fazem os que sonham demais,
deixou para trás não um vazio,
mas um portal.
Um limiar entre mundos.
Entre o que somos e o que podemos ser.
Entre o agora e o que ainda não ousamos sonhar.

Ela não deu adeus.
Apenas sorriu.

E a névoa…
voltou,
mas agora cheia de caminhos.

Desde então,
toda vez que você acende uma vela do Recanto Espírito Livre,
não está apenas iluminando o escuro.
Está recordando um lugar que talvez você nunca tenha deixado.

 

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